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Desaparecer.

As minhas palavras já não fazem mais tanto sentido. A minha pele parece muito flácida, ou ainda, está muito flácida. Esqueci-me das coisas mais elementares da existência, o mundo até parece diferente. Não como, ou melhor, como muito pouco. Não bebo água ou, aliás, até bebo, para engolir o que deveria me fazer bem. Minhas pernas já não sustentam o peso do meu corpo, então prefiro ficar sentado. Fico sentado sempre em uma poltrona confortável, cujo conforto admiro há semanas, dias, horas ou instantes, não sei. Coloco as coisas que gosto no canto, perto de mim, porque não gosto da ideia de procurá-las no armário, já que eu não as acharia lá. Ouço as mesmas músicas há anos, porque nada de novo anda sendo lançado.

E isso me faz pensar: mas que momento poético. As pessoas que frequentam a minha casa falam comigo e eu apenas concordo, porque não entendo o que elas falam. Eu não pergunto quem são, porque seria uma tremenda falta de consideração da minha parte não lembrar dos seus nomes. Eu não rego mais as plantas, porque eu prefiro que elas morram. Quando me perguntam sobre isso, eu não sei o que dizer. Na verdade, eu nunca sei o que dizer, porque esqueci-me de muitas das palavras que aprendi na infância. E por falar em infância, não lembro se tive algo parecido.

Aos poucos, dia por dia, vou seguindo em frente. Todavia, todos me dizem que, se eu continuar assim, não vou passar deste ano.

K. L. Melo