Voltar à pagina inicial.

Prisão invisível

Antes do nada, existia tudo. Isso representa o viés de uma jovem Princesa coberta por um semblante de ilusões infinitamente confortável. Alguém a pergunta: - Se precisasse escolher ser outra pessoa, quem seria essa? E ela responde: - Ninguém, pois ninguém é como eu, e eu prefiro ser nada a ser alguém que não seja eu mesma.

Alguém: - Mas, quando se é nada, não se tem nada também. Quando se tem algo, aproxima-se, ao menos um pouco, de quem você gostaria de ser. Não seria isso o suficiente?

A Princesa: - Nunca seria. Um pouco de mim, mesmo que ainda seja algo, é infinitamente distante do corpo que sou. Entre sofrer por ser um reflexo mínimo do que eu poderia ser e ser nada, prefiro sucumbir ao vazio.

Alguém: - Mas, ao existir, garante-se diversos benefícios passivos à vida. Não é necessário muito para se ter algo útil.

A Princesa: E por que eu deveria me importar com as coisas primordiais da vida? Minha complexidade é o símbolo da minha grandiosidade e isso se torna explicitamente verdadeiro à medida que as pessoas que não são como eu são simples. O complexo é difícil de entender e, por isso, gosto dele.

Alguém: - E o que é a complexidade se não um amontoado de coisas inúteis que mascaram a utilidade mínima de algo que poderia ser simples? Qual a sua utilidade, Princesa? O que você é que justifica sua complexidade?

A Princesa: Sou completa, infinitamente completa, e é por isso que sou complexa.

Alguém: - Mas algo completo não é justamente algo simples?

K. L. Melo