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Sobre Borat.

Originalmente, isto foi publicado em um servidor NNTP por mim.

Recentemente, assisti a um filme de 2006 chamado Borat! Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan. É um filme de comédia lotado de um humor completamente esdrúxulo, são coisas que soam quase que como o "limite do humor", com cenas de nudez e piadas com nudez, antissemitismo, estereótipos absurdos de costumes da Ásia Central e mais um monte de coisas desse tipo.

Arrependo-me? Não, nem um pouco (não ache estranho, eu vou explicar o porquê). Na verdade, é um dos melhores filmes que já assisti, junto a The Matrix, que acho que merece até um texto à parte deste, é incrível. O filme fala sobre um reporter que vive no Cazaquistão e faz uma excursão aos Estados Unidos da América (ou, como Borat, o protagonista, gosta de dizer: U, S and A) visando coletar aprendizado para o seu país, o que melhorar. Nessa viagem, ele demonstra comportamentos do tipo de beijar as bochechas dos americanos, tratar judeus como se quisessem o matar e outros tipos de coisas cem por cento extremas.

A graça toda do filme é que esse personagem, Borat, interage com pessoas que não sabem que ele é realmente um personagem e, com isso, é engraçado ver o choque com o absurdo. Ademais, a coisa super interessante sobre Borat é que o personagem consegue alcançar o preconceito que existe nos americanos, como o preconceito com relação aos muçulmanos (esse filme saiu em 2006, apenas 5 anos após os ataques de 11 de setembro de 2001). Existe até uma cena desse filme em que, em um evento de rodeio, uma das pessoas que instrui Borat ao que fazer sugere ele tirar o bigode para que não pareça "um deles" e, ainda, diz que, quando vê alguém como o Borat na américa, imagina que tipo de bomba você vai plantar aqui.

O filme explora todos esses absurdos da cultura americana enquanto satiriza a cultura do Cazaquistão. É tudo uma grande crítica ao modo americano de ver as coisas, Borat até diz, indo aos Estados Unidos, que "está indo para o greatest country in the world!", clara ironia.

Borat é uma grande crítica ao modo de pensar americano, o modo de pensar que vem do "melhor país do mundo". Borat mostra que não há muito de diferente entre uma nação que parece tão evoluída com um lugar como o Cazaquistão. O filme explora as partes da mente dos americanos que se assemelham aos costumes dos países que julgam "subdesenvolvidos" e problemáticos. Ele mostra que, no final, é tudo a mesma coisa e, ainda, pensar que a sua cultura é melhor que a outra é um grande gesto de falta de humildade porque, no fundo, somos todos iguais de alguma forma.

É um filme bem seco, não existem filtros nas cenas. É um jeito pouco aceitável no mundo que a gente vive de mostrar algumas coisas e, com honestidade, acho que Borat não conseguiria fazer o que fez melhor. Não consigo ver um jeito (que não seja um jeito utópico, que funcionaria num mundo ideal) de mostrar essa face dos Estados Unidos. É ainda mais interessante assistir a esse filme quando você para pra reparar que muitas das coisas que acontecem ali não são atuações, mas reações genuínas, geralmente vindas de "figurantes" que estavam observando a atuação em si, sem saber que era uma atuação.

Claro, é difícil explicar tudo com palavras, recomendo o filme pra todo mundo. Existem cenas nada leves para o público geral, mas recomendo, ainda sim, o esforço pra assistir ao filme.

Parando pra pensar, eu falei pouco sobre a comédia, talvez o filme nem seja tanto sobre essa parte LOL.

Nada te impede de me achar um louco por pensar que esse filme é uma obra prima, é lotado de piadas que não são cabíveis. Mas, mesmo assim, eu acho bastante difícil você discordar de mim quando assiste ao filme por si mesmo com o que eu disse em mente.

K. L. Melo