Voltar à pagina inicial.

O perseguidor.

Memórias são tudo o que restou quando tento olhar para a minha inocência. É saudade imensurável de uma versão minha que não existe mais. Não consigo ao menos me lembrar da transição do meu eu atual para o meu antigo, não percebi. Mas, sei que é diferente, sei que não somos mais a mesma pessoa. Na verdade, nunca fomos. Essa outra pessoa vivia em um mundo bom, onde tudo era bom. Era um mundo com esperança, onde as coisas funcionavam meramente por se esperar que funcionassem. Era um mundo sem consequência, sem preocupação; Isso tudo era coisa de um futuro que parecia nunca chegar. A pressão não existia, a solidão era agradável ou, melhor, não era preocupante.

Os estímulos não eram necessários, a índole era inquestionável e todos os amigos eram amigos dele também. Era um mundo de amor verdadeiro, intocado pela perversão, que eu busco até hoje. Ele não dava valor, e é o que eu faria também, porque é assim que todos nós somos, independente da inocência ou não. Será que eu se quer merece o que eu busco? Será que eu se quer mereço realizar os meus sonhos mais fantasiados? Do que adiantaria se, depois do alcance, eu sentiria desprezo e vontade de mudança, vontade de perder. Movido pelo prazer, só daria valor ao ato de conquistas, mas não à conquista em si.

É claro, nem tudo o que um dia eu quis, desperdicei, joguei fora. Isso me dá esperança de que, assim que tiver tudo o que quero atualmente, possa aproveitar ao menos algumas dessas coisas, as mais importantes, as que não posso tocar como objetos.

K. L. Melo