Eu sou claramente um homem de fases. Diria até que sou um homem de fases cíclicas, o que me deixa bastante incomodado. Imagina sempre percorrer um caminho e voltar pro mesmo lugar? Na vida, as coisas geralmente funcionam assim. São ciclos, ciclo disso, ciclo daquilo, ciclo da vida. Recentemente eu voltei à parte do ciclo que envolve estudar bastante. Passei diversos anos estudando bastante e voltei a ter ânimo pra estudar.
Cerca de três anos atrás, eu conheci um rapaz chamado Gabriel Gircys Cajueiro, que (no momento em que escrevo isto) é "Praticante de Oficial de Máquinas". Antes de ter esse cargo, ele era apenas uma pessoa como eu e talvez igual a você: ele estudava todo dia para tentar alcançar algum dos seus sonhos. Nessa época, ele postava bastante da sua rotina numa página do Instagram, "Tucano Papiro", que já não existe mais. Logo ficou conhecida porque o Gabriel era um exímio desenhista e tinha uma organização impecável nas anotações que, misturadas a esses desenhos, tornavam seus cadernos verdadeiros livros feitos à mão. Inspiradas por ele, diversas pessoas começaram a postar suas rotinas de estudo em páginas no Instagram (geralmente com o nome de "Alguma Coisa"+"Papiro") e até eu mesmo achava bastante interessante, parecia ser inspirador.
Hoje em dia, mudei bastante minha opinião sobre isso. Por mais que seja legal propagar a ideia de que estudar é algo bom, soa como uma perda de tempo enorme esse esforço todo para mostrar que estuda. Fazer anotações e rascunhos lindíssimos para mostrar aos outros. No fim, você gosta de estudar ou gosta de passar a impressão de que estuda? Bom, essa é uma pequena critica direcionada a essa bolha de pessoas que estudam desse jeito paralelo ao do Gabriel, mas existem também as pessoas que, em vez de terem um instagram de "Papiro", elas tem um "Studygram", que é uma pequena variação.
Resumos desnecessariamente coloridos, enfeitados, preenchidos com vários tipos de traço formam anotações, protagonistas nessas páginas, que mais parecem letreiros ou cartazes de filme. Parece que o prazer vem mais no ato de escrever do que em estudar em si, como se escrever não fosse o complemento, mas sim a prioridade.
Eu vou anexar aqui as anotações do Gabriel, algo que eu conseguir recuperar (já que ele arquivou ou deletou a conta dele) e alguma coisa a ver com esses Studygrams.
Gabriel:
Alguma anotação no estilo que algumas pessoas que têm "Studygrams" utilizam:
Claro, assim como em todas as coisas, existem os lados positivos nessas páginas de pessoas que estudam e mostram que estudam. Talvez isso ajude elas a manter o foco quando estudar já parece muito chato, é algo que sempre acontece. Então, se for pra fazer algo que não seja estudar, talvez seja bom fazer algo a ver com estudo. Algumas pessoas também ficam em fóruns ou grupos de mensagem falando sobre estudar (não necessariamente ajudando alguém ou recebendo ajuda), o que pode ser encarado da mesma forma. Apesar disso, é fácil se perder nesse caminho de fazer algo que se parece com estudar, como falar sobre estudar, e não estudar em si. É o que muita gente faz.
No fundo, será que essas pessoas que fazem tantas coisas sobre estudar, além de estudar, realmente gostam de estudar? Será que elas realmente veem um sentido nisso? Se sim, por que fogem tanto do aprendizado e buscam refúgio nessas coisas secundárias? Por que dão tanto valor ao que usam pra escrever e como escrevem ao extremo?
São coisas difíceis de serem entendidas, talvez nunca entenderei de verdade ou, ainda, talvez nem exista uma resposta pra esses questionamentos.
K. L. Melo