O legado é a única coisa que vai restar quando eu partir. Eu partirei daqui a não muito tempo e penso o tempo inteiro: qual é o legado da minha vida? Eu vivi, mas, o que sobrou disso? Que diferença isso fez? Eu preciso me importar com a diferença que a minha vida fez no mundo ou só posso aproveitar os prazeres, que são meros impulsos elétricos ou coisas desse tipo, da vida?
Esse é um assunto difícil, pelo menos eu não vejo uma solução clara a princípio, mas eu posso conseguir chegar a uma solução que me interessa admitir como a melhor antes de que o fim chegue. Pra começar, eu quero dizer que eu conheci uma pessoa recentemente que me afirmou com todas as palavras que não tinha interesse algum em deixar um legado, apenas queria "viver" sem um sentido claro. Eu pensei nisso por muito tempo. Na verdade, estou pensando nisso agora e me pergunto, por quê? Por que viver se não for pra deixar um legado? Algo escrito, como este texto, algo audível, como a discografia da banda Ramones, uma pintura, como as de Vincent Van Gogh, ou mesmo uma coleção de ideias, como a de Sócrates. Você vê sentido em deixar um legado de um desses tipos? Bom, independentemente do que você pensa, essa pessoa que eu comentei não vê sentido algum nisso. Se isso não faz sentido, qual o sentido da vida? Você pode passar sua vida estudando mas, no fim, você não ganha nenhum bônus por ser super inteligente quando o final chega. Quando você morre, toda a sua dor, toda a sua felicidade, todo o seu conhecimento, tudo isso desaparece se você não compôs um legado.
Se você não constrói um legado para as próximas gerações de seres humanos, a sua vida é em vão. A sua vida não tem sentido se você não se esforça pra passar, de qualquer forma que seja, a experiência da sua vida pra frente. Você desaparece e, caso escolha fazer o contrário, sua vida é eterna. Os meus melhores amigos não são meus contemporâneos, são pessoas que deixaram seus legados e, dessa forma, se tornaram alcançáveis e vivos dentro da minha vida. Eu consigo ver o sentido da vida deles, eu sinto orgulho dos meus antepassados, ou pelo menos da maioria deles, porque eles se esforçaram para me ajudar, um desconhecido, um sem vida enquanto esses eram vivos. Eles tiveram amor à humanidade, amor a quem eles nunca viram. Eles tiveram paixão cega pela espécie e se permitiram ser amigos de totais desconhecidos cuja única intenção conhecida era a de aprender com alguém. Eles se tornaram imortais.
Isso não te soa como a forma mais pura de compaixão e empatia? A forma final do amor se encontra com o ser humano que escolhe viver em pró do próximo, vivendo e deixando seu trabalho mais importante para que outro alguém use ao seu favor. Dessa forma, e somente dessa forma, eu consigo enxergar um futuro feliz para a humanidade e, como bônus, consigo finalmente moldar o sentido da vida na minha mente.
Caso discorde do que eu falei e veja sentido em não deixar legado para a humanidade, está tudo bem. Inclusive, eu te convido a apresentar as suas ideias a mim e, quiçá, elas poderão se tornar um bom aprendizado para todo o mundo, ou seja, um grande legado.
K. L. Melo