Quando chego a casa, olho-me pelo espelho e reflito momentâneamente: que fracasso. Que falsidade imensa foi pensar que o que fiz neste longo dia foi de alguma forma útil aos meus amigos e, ainda penso, que amigos? O que é a amizade, na prática, se não uma constante troca de favores e que, de divino, não possui nada? E se não for da amizade, do que mais viverei e do que extrairei o suco da motivação? Será da bebida, do fumo, do sexo? É isso o que dá sentido a algumas vidas ou isso é o que as distrai do fato de que as coisas não têm um sentido?
O retrato da amizade se torna tão ofuscado para mim que não consigo mais enxergar o que algum dia enxerguei nesse sentimento. O que são os amigos se não pessoas que te acompanharão por algum momento e, então, derrepente, sumirão? Esse é o rumo natural das coisas? Por quê?
E ainda, sobre o senso coletivo, que existe de tão pouco em nós. Por que não cuidamos uns dos outros como um só se, no fim, somos um só? As nossas maldades traem a possibilidade de formarmos um só corpo. Nós poderiamos nos ajudar dessa forma. Nós poderiamos encontrar, juntos, o sentido da vida, ao em vez de tratarmos uns aos outros como desconhecidos. Isso não tem sentido ao passo que, no fim, todos temos os mesmos tipos de pensamentos, até os que dizemos abominar. Afinal, somos todos iguais.
Os jogos e as palavras, os discursos, perdem o sentido à medida que não enxergo mais motivação e não tenho mais esperança. Depois de tudo, o sol se apaga e, na noite infinita, as formalidades possuem exatamente as mesmas qualidades de algo virtual, porque sempre foram dessa forma.
K. L. Melo